Os recentes ataques a ônibus em São Paulo, que já somam quase 200 veículos vandalizados desde junho, vão muito além de simples atos de depredação. Eles expõem uma ferida profunda no sistema de mobilidade urbana, evidenciam falhas na segurança pública e penalizam diretamente a população mais vulnerável, que depende do transporte coletivo diariamente para estudar, trabalhar e viver.
Quando um ônibus é atingido por uma pedra, o dano não é só material. O veículo precisa ser retirado de circulação, causando atrasos, sobrecarga em outras linhas e, em muitos casos, colocando vidas em risco. A população sente medo — e com razão. A insegurança se instala nas janelas quebradas, nos relatos de passageiros feridos, no receio de sair de casa e não saber se conseguirá voltar em segurança.
A apatia com que essas ocorrências são tratadas preocupa. Ainda não houve identificação dos autores, e as investigações avançam lentamente. O transporte público, que deveria ser prioridade nas políticas públicas por seu papel estratégico na organização das cidades, é mais uma vez desvalorizado. Atacar ônibus é atacar a cidade é atacar o cidadão é atacar o trabalhador. É sabotar o direito de ir e vir de milhares de pessoas.
Além disso, a suspeita de que esses ataques possam ter motivações ligadas a disputas sindicais ou uso de jovens como instrumentos de pressão revela um cenário ainda mais alarmante. Estamos diante de uma crise que exige respostas firmes, investigação profunda e articulação entre todos os agentes — poder público, empresas, sindicatos e sociedade.
Não se trata apenas de consertar vidros quebrados, mas de restaurar a confiança no transporte público. É preciso reforçar a vigilância, investir em inteligência para identificar os autores e, acima de tudo, tratar o transporte como eixo central da cidadania urbana. Porque quando um ônibus é atacado, o que se quebra não é só o vidro — é a dignidade de quem precisa dele todos os dias.
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